MISSÃO VOLUNTARIADO PASSIONISTA 2014
Estado: concluído
Início: 17 de Janeiro de 2013
Conclusão: 21 de Julho de 2014
Local: Bairro do Zango, Viana, Angola
Parceiros: CESA – Centro Socioprofissional Nossa Senhora Auxiliadora (Filhas de Maria Auxiliadora, Congregação Salesiana de Dom Bosco)
Entidade Financiadora: atividade financiada por estratégias de angariação de fundos do VP
Missão de longa duração das voluntárias Carina Silva, Maria João Ramires e Umbelina Dantas no âmbito do Voluntariado Passionista, realizada no Bairro do Zango em Angola.
OBJETIVOS
- Dinamizar processos de alfabetização de adultos;
- Promover formação em higiene pessoal e ambiental nas comunidades;
- Promover formação aos acólitos do CESA;
- Catalogar livros da Biblioteca;
- Apoio logístico.
“Passados 6 meses, os dias em Angola parecem durar … e o trabalho continua! Tenho aula de alfabetização de jovens e adultos, das 8h as 10h com a 3ª classe e das 10h às 12h com as mamãs do 1º ano. Este é um desafio enorme, mas que eu estou a adorar. Nunca dei aulas na minha vida, mas descobri que até tenho alguma paciência e apaixonei-me por aquilo que faço. E principalmente gosto muito dos meus alunos.
A guerra foi entrave para a aprendizagem de muitos deles, e hoje tudo depende muito dos fatores externos que não a própria vontade para aprender … Faltam muito porque há óbitos quase todos os dias (do pai, da tia, do sobrinho, da vizinha), porque vão ao médico, ou vão com os filhos ao médico, porque estão com paludismo, etc. A falta de visão é mais um dos problemas que têm as mamãs mais velhas do 1º ano, e se não veem, como conseguem ler e escrever? Tudo aqui se torna mais complicado, mas por isso mesmo tudo se torna um enorme desafio que eu gosto de enfrentar. É muito bom acompanhar a evolução de cada um deles e saber que, apesar de tudo, reconhecem que estou a fazer um bom trabalho!
Às terças e sextas vamos com o Pe. Nuno às comunidades. Estas são comunidades cobertas de lixo, o que acaba por ser um foco de doenças enorme. O nosso trabalho com a população tem sido essencialmente de formação em higiene pessoal e ambiental, cuidados básicos a ter na cozinha, educação sexual, costura e outros assuntos que possam surgir. Este é um dos trabalhos mais gratificantes e desafiantes para nós, porque é onde temos o contacto mais real e mais autêntico com o dia-a-dia das pessoas. Mas é também um dos trabalhos que mais mexe com as nossas emoções, porque nos faz pensar na nossa realidade e nas oportunidades que nós tivemos e temos, a que eles infelizmente não têm acesso.
Para além destas atividades, cooperamos com o Centro a todos os níveis, dando a ajuda necessária em todos os momentos, seja na secretaria, grupos, na vida comunitária ou mesmo em atividades mais “pesadas” como preparar umas grades de segurança para serem postas aqui no Centro.
Um dia alguém me disse para ser feliz neste “céu”. No início achei que uma realidade como esta nunca se poderia chamar céu. Hoje tenho a certeza de que não devemos procurar o céu por cima das nuvens! Quando experimentamos a alegria do amor, quando nos dedicamos ao Outro, então surge o Céu.”
Carina Silva – Voluntária Passionista em Angola
“Observando retrospetivamente os quatro meses decorridos da Missão no Zango, Angola, as ideias surgem numa sucessão incontrolável, pois emerge o contraste com o quanto fiz com o muito que ainda há para fazer, coadjuvadas pelas imagens de locais e pessoas com quem estive, interagi, convivi, comuniquei, ri, chorei, refleti, observei, sensibilizei e senti.
Desde as aulas ministradas no CESA (Centro Socioprofissional Auxiliadora), em dois cursos de dois meses cada, de Relacionamento Interpessoal e Secretariado e Relações Públicas, assim como várias tarefas, tais como: apoio nas atividades de organização do centro e nas inerentes à vivência em comunidade, organização da biblioteca, cozinhar, lixar e pintar grades, às visitas pelas comunidades, Santa Paciência, S. João Eudes, S. Miguel Arcanjo, Santa Teresa, S. Carlos de Lwanga e S. Estevão com o Padre Nuno Almeida, que em simultâneo com a evangelização, Educação para o Desenvolvimento foi a preocupação mais preponderante. Nestas comunidades o que para nós é simples e pensamos que é do conhecimento geral, não acontece, por isso o vocabulário tem de ser básico assim como a transmissão da informação tem de ser bem pausada e lenta, uma vez que estas pessoas dominam com dificuldade a língua portuguesa. Assim, desde ensinar os mais pequeninos a lavar as mãos, advertir as jovens sobre os inconvenientes de uma gravidez precoce, informar as mamãs que o simples gesto de ferver a água para beber pode reduzir bastante as doenças que segundo elas “aparecem não sabem de onde e custam muito a sarar”, construir latrinas para fazerem as necessidades e buracos para eliminar os lixos que vagueiam pelo chão e fazem já parte duma paisagem que nos agride a alma, mas às populações são rotinas instituídas, ensinar as mamãs a cozer botões e fazer bainhas, fornecer receitas de bolos simples, passar a ferro as camisas, foram assuntos que cada vez que me deslocava, com intervalos de algumas semanas, era muito gratificante verificar que assimilavam bem o que ouviam de mim e depois concretizavam, exibindo orgulhosamente o trabalho realizado.
Outro trabalho que me realiza imenso é acompanhar um grupo de vinte pessoas que se dedica ao fabrico de sabão artesanal a partir dos óleos saturados fornecidos por cantinas de empresas e restaurantes. Começaram em instalações provisórias e muito precárias no quintal de um dos elementos, com produção intermitente, e agora com o apoio da empresa Odebrecht que construiu a nova fábrica, este grupo de pessoas recebeu de mim formação para se organizar como empresa. Com inauguração marcada para 10 de junho, conto que nessa altura já a Fábrica de Sabão Artesanal do Zango estará de portas abertas ao público e o fabrico se sabão será uma realidade a acontecer diariamente.
Para mim estar em Missão é ter consciência que o Caminho pode ser longo e difícil mas nunca impossível e cada dia é sempre um outro recomeço que me conduz a ápices inesquecíveis com abundante cumplicidade na aprendizagem.”
Umbelina Dantas – Voluntária Passionista em Angola